sábado, 18 de janeiro de 2014

Leite com pêra

Na última vez que entrei aqui, eu era outra pessoa, é sério!
E eu tenho como provar isso, embora meu RG e CPF continuem com os mesmos números, não é possível que o camarada que escrevia aqui há 4 anos atrás, seja o mesmo que está aqui nesse momento fazendo uma espécie  de autoanálise mixuruca, enquanto cospe algumas frases num blog antigo, enfim; não quero pegar um viés filosófico citando Heráclito, no entanto, não há como não resvalar num estado de reflexão.
É surpreendente notar o efeito do tempo na matéria, olhar para mim e não ver relação nenhuma com o cara que escreveu os textos que acabei de redirecionar para os rascunhos , não pelos excessivos erros gramaticais e gírias que por certo serão consideradas cafonas daqui a uns 20 anos, mas pelo conteúdo representar fortes posições que hoje eu não teria capacidade de sustentar.
A mudança mais bizarra que pude constatar, tentando ao máximo olhar de forma neutra como se estivesse realmente lendo textos de outra pessoa, foi  a conquista de uma dúvida... ora deliciosa, ora amarga; uma certeza  da incerteza, uma espécie de compreensão da imprevisibilidade  dos objetos que dão sentido à vida, ou davam sentido - para ser mais específico- hoje eu não tenho certeza de nada.
Longe de mim tirar de Pierre Bayle, o mérito de ter feito da dúvida um método, porém , essa tem sido a minha forma de tocar a vida depois dos 25 anos. Aquela coisa de não somente acreditar ( sob pena de uma eternidade sofrida num ambiente quente pra caralho, pegando fogo, caso não o faça) em algo superior e transcendental , mas com o mesmo zelo anunciar , convencer o outro de que a "verdade" habita dentro do conjunto de concepções que eu represento, soa hoje como uma atitude um tanto pretensiosa. Não estou querendo pagar de ateu aqui, já passei daquela fase mais rebelde de vomitar as coisas que me foram impostas. Hoje consigo perceber que fechar as portas para uma possibilidade ( o fato de existir mesmo algo que esteja além da capacidade de percepção humana ) somente pelo fato de ter tido experiências ruins anteriormente, não é nada inteligente, só perdi mesmo o medo de não ter certeza, e isso não é ruim.
Engessar dados e constatações (certezas), é impossibilitar novas possibilidades, e disso eu estou fora!
Consegui entrar na federal dos meus sonhos no curso dos meus sonhos, e se há certeza em algum canto de mim,  ela está em todos os projetos que possuem relação com a minha área de estudo, talvez tenha conexão com o que citei no parágrafo anterior, o medo de não enxergar novas possibilidades me impulsiona a ter certeza que preciso continuar estudando.
E assim vou terminando esse texto, que mais parece um diário de garoto juvenil criado a leite com pêra( AWAY, 2011,) entendendo o conceito de longa duração de Fernand Braudel, aplicado numa escala reduzida, na minha própria vida, nas minhas duas décadas e e seis anos.
Eu espero de verdade que ninguém leia isso.

Bento.