sexta-feira, 10 de outubro de 2014

É hoje, agora.

“Examine cada um os seus pensamentos. Vai encontrá-los todos ocupados com o passado ou com o futuro. Quase não pensamos no presente, e se nele pensamos é somente para nele buscar luz para dispormos do futuro. O presente nunca é o nosso fim.
O passado e o presente são os nossos meios; só o futuro é o nosso fim. Assim não vivemos nunca, mas esperamos viver e, sempre nos dispondo a ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.”
Pascal 

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

“Certamente, somos feitos assim, sempre nos comparando com tudo e com todos; desse modo, felicidade ou desgraça encontram-se nas coisas que nos unem e, nesse caso, não há nada mais perigoso do que a solidão. A nossa imaginação, inclinada por natureza a elevar-se, alimentada pelas imagens fantásticas da arte poética, cria uma série de seres, dos quais somos os mais insignificantes, e tudo o que está além parece-nos mais magnânimo e mais perfeito. E é muito natural. Frequentemente sentimos que nos falta muita coisa e parece que quase sempre um outro possui exatamente aquilo que nos falta, atribuímo-lhe tudo o que temos, até mesmo uma certa satisfação ideal. E assim criamos a felicidade perfeita, uma invenção nossa.”
Goethe em Os sofrimentos do jovem Werther

terça-feira, 22 de julho de 2014

Erros

É mais cômodo lidar com a agonia da imprevisibilidade costumeira quando se opta por uma vida sem roteiros certos e padronizados à  submeter-se ao enfado de uma rotina sem aromas e  nem cores, monótona, desenhada e planejada com pretensões geladas de podar a individualidade.
Dispenso orientações que  apresentam  como lentes  graus que nunca me serviriam, tudo possui muito mais sentido quando toco a realidade com meu próprio paladar, e do meu jeito.
Traumas tratam de tecer os enredos das histórias, de  geração em geração os erros são feitos de bússolas, mas... o que é errar senão sujar a consciência ?
Tenho um compromisso comigo de não sujar a minha, de não trair quem pareço ser, ou o que / quem  eu sou nesse minuto enquanto escrevo, e dói notar que as leis que fundem a realidade com seus aparatos coercitivos parecem inócuas, não fazem sentido.
É um erro dotar de naturalidade realidades absurdas, esconder  cura para lucrar com medicamento, impor padrões de beleza num mundo plural, estimular as pessoas a crescerem na vida onde o crescer  possui uma conotação altamente danosa, para si mesmo e quem está do lado.



quarta-feira, 16 de julho de 2014

Arca

Hoje cedo, vi numa rede social  uma foto que me fez refletir sobre algumas coisas, aliás, metáforas sempre são aparatos metodológicos que funcionam muito bem comigo, na minha tentativa de jogar para fora coisas que nem sempre tem nome ou referências exatas. Tratava-se de um desenho contendo diversos artistas relevantes nesse último século . 

Pode soar um tanto estranho, exótico ou desconexo, mas subitamente pensei em Arca, é... aquela retratada em textos bíblicos, onde... diga-se de passagem,  é maior barato essa coisa de arca, de Dilúvio, né? Sempre pensei nessa história louca, na dificuldade de fazer uma arca tão grande que comportasse tanto animal dentro, enfim, pensei nisso, mas... como essa história se aplica nisso tudo? Qual é a conexão que existe com esta imagem?

Pensei no quanto esta vida é efêmera, olhei para o desenho e vi que nenhum desses caras estão mais aqui, pensei em quantos gênios também tão relevantes quanto estes, seja na música, nas artes plásticas, no teatro, na ciência ..em séculos anteriores sequer estão neste desenho, e muito menos soubemos da história deles, pois são de" arcas" diferentes.

Tecer uma memória que realmente faça jus a como queremos ser lembrados deveria ser lei. A cada arca, temos um bocado de gente, alguns sendo o que querem ser, correndo atrás de desempenharem tarefas que os apetecem, se relacionando com pessoas que escolheriam até no video game, vivendo uma vida que realmente os definem como ser humano, outros não. Nessa leva que está na foto, imagino que sim. Acho que nesse barco da foto, esses realmente se salvaram. Eu particularmente não consigo imaginar um Bob Marley ou Jimi Hendrix lamentando-se por terem feito da música suas lápides. 

Deve ser realmente muito foda estar nas últimas e ter convicção de que a história que contarão sobre você realmente te contempla, te rememora sem espaço para antagonismo. 

Sei lá, não queria fazer um texto com conotação de autoajuda, mas vale a reflexão.

 



terça-feira, 17 de junho de 2014

Esperando

Ontem, num bate papo informal de boteco, ouvi um amigo citar Bukowski.
A temática dos vocábulos declamados naquela mesa - com muita dificuldade por conta do número de Antárticas degustadas - girava em torno da ausência de percepção de que passamos muito mais tempo na vida esperando. Fila de banco, compras pela internet, conclusão da graduação, enfim; esperar tornou-se um verbo que costura muito bem o sentido de uma geração acostumada a sonhar alto, e identificar nas pequenas e grandes realizações individuais, um motivo bacana de compartilhar no facebook. Cotidianamente experenciado, do doownload à maquina de café, empurrar para um estado que não nos  cabe um raio mínimo de influência,  acaba fazendo parte dessa nossa cultura.
Gosto de pensar que estou passando por uma etapa, um processo que irá desembocar em algo ( melhor, óbvio)  lá na frente, teleologicar meu autoexame, no entanto, me incomoda notar que talvez eu esteja usando esse verbo demais.
Esperar, por definição é nutrir expectativas, e como meu amigo ontem me lembrou com o poema do velho sábio, posso estar fadado  a (não) ver a vida passar por ter o hábito de remanejar as responsabilidades dos resultados dela para este estado de espera, como se houvesse sempre algo melhor, em todos âmbitos possíveis, e com isso a caneta que me possibilitaria escrever uma história real transforma-se em uma senha para uma próxima oportunidade .


quinta-feira, 6 de março de 2014

“Se todos, podendo assomar ao bocal das consciências alheias, víssemos despidas as almas, as nossas rixas e suspeitas fundir-se-iam todas numa imensa piedade mútua. Veríamos as negruras do que temos por santo, mas também a alvura daquele que consideramos um malvado” ( UNAMUNO, MIGUEL. 1908 )
"Dentre todas as Almas já criadas -
Uma - foi minha escolha -
Quando Alma e Essência - se esvaírem -
E a Mentira - se for -

Quando o que é - e o que já foi - ao lado -
Intrínsecos - ficarem -
E o Drama efêmero do corpo -
Como Areia - escoar -

Quando as Fidalgas Faces se mostrarem -
E a Neblina - fundir-se -
Eis - entre as lápides de Barro -
O Átomo que eu quis!"

 Emily Dickinson

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Divido :

Aposto que em três gerações
Tudo que eu fiz e sou será...
Um chá que ninguém gosta de...
Tomar conhecimento pelo o que ouviu dizer
Ao meu respeito...só os feitos de mais um
Aqui, tecendo aspirações tão infantis a vida toda
Lutando pra dizer quem dita a regra nessa porra
De vida... divido :
Todo mistério que há
no anoitecer, no sorrir
no fraquejar e cantar, disso ninguém vai lembrar.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Leite com pêra

Na última vez que entrei aqui, eu era outra pessoa, é sério!
E eu tenho como provar isso, embora meu RG e CPF continuem com os mesmos números, não é possível que o camarada que escrevia aqui há 4 anos atrás, seja o mesmo que está aqui nesse momento fazendo uma espécie  de autoanálise mixuruca, enquanto cospe algumas frases num blog antigo, enfim; não quero pegar um viés filosófico citando Heráclito, no entanto, não há como não resvalar num estado de reflexão.
É surpreendente notar o efeito do tempo na matéria, olhar para mim e não ver relação nenhuma com o cara que escreveu os textos que acabei de redirecionar para os rascunhos , não pelos excessivos erros gramaticais e gírias que por certo serão consideradas cafonas daqui a uns 20 anos, mas pelo conteúdo representar fortes posições que hoje eu não teria capacidade de sustentar.
A mudança mais bizarra que pude constatar, tentando ao máximo olhar de forma neutra como se estivesse realmente lendo textos de outra pessoa, foi  a conquista de uma dúvida... ora deliciosa, ora amarga; uma certeza  da incerteza, uma espécie de compreensão da imprevisibilidade  dos objetos que dão sentido à vida, ou davam sentido - para ser mais específico- hoje eu não tenho certeza de nada.
Longe de mim tirar de Pierre Bayle, o mérito de ter feito da dúvida um método, porém , essa tem sido a minha forma de tocar a vida depois dos 25 anos. Aquela coisa de não somente acreditar ( sob pena de uma eternidade sofrida num ambiente quente pra caralho, pegando fogo, caso não o faça) em algo superior e transcendental , mas com o mesmo zelo anunciar , convencer o outro de que a "verdade" habita dentro do conjunto de concepções que eu represento, soa hoje como uma atitude um tanto pretensiosa. Não estou querendo pagar de ateu aqui, já passei daquela fase mais rebelde de vomitar as coisas que me foram impostas. Hoje consigo perceber que fechar as portas para uma possibilidade ( o fato de existir mesmo algo que esteja além da capacidade de percepção humana ) somente pelo fato de ter tido experiências ruins anteriormente, não é nada inteligente, só perdi mesmo o medo de não ter certeza, e isso não é ruim.
Engessar dados e constatações (certezas), é impossibilitar novas possibilidades, e disso eu estou fora!
Consegui entrar na federal dos meus sonhos no curso dos meus sonhos, e se há certeza em algum canto de mim,  ela está em todos os projetos que possuem relação com a minha área de estudo, talvez tenha conexão com o que citei no parágrafo anterior, o medo de não enxergar novas possibilidades me impulsiona a ter certeza que preciso continuar estudando.
E assim vou terminando esse texto, que mais parece um diário de garoto juvenil criado a leite com pêra( AWAY, 2011,) entendendo o conceito de longa duração de Fernand Braudel, aplicado numa escala reduzida, na minha própria vida, nas minhas duas décadas e e seis anos.
Eu espero de verdade que ninguém leia isso.

Bento.